“Branca-Flor: O Teatro de Lília da Fonseca (1962-1982)”, Rute Ribeiro

Rute Ribeiro

Ponencia presentada en el I Encuentro de Títeres en Femenino, 2007.

(Centro de Artes da Marionetas – C.A.Ma | A Tarumba-Teatro de Marionetas | Lisboa Portugal)

O Teatro de Branca-Flor nasceu do sonho de uma escritora, Lília da Fonseca (1906-1991), uma mulher ímpar e multifacetada, jornalista, publicista, escritora, marionetista, encenadora, pedagoga… faz parte de um conjunto de mulheres que se notabilizaram no século XX português, pela sua criatividade, pela defesa da igualdade de oportunidades da mulher e, sobretudo, devido ao seu papel na literatura e no teatro, destacando-se as suas criações dirigidas ao público infantil e a tentativa de colocar Portugal no mapa mundial, ao liderar várias associações internacionais.

Franzina e sem idade, dona de uma energia inesgotável, lutou pelas suas ideias e pelo seu teatro, que se esforçou por manter, ao longo de mais de duas décadas.

O Teatro de Branca-Flor foi um projecto teatral pedagógico, social e artístico invulgar em Portugal, dirigido às crianças, numa época em que tanto o teatro infantil, como o teatro de marionetas, eram absolutamente raros no nosso país. Rodeou-se desde o seu início de importantes colaboradores do ponto de vista artístico, destacando-se os nomes de Francine Benoit, Humberto d’Ávila, Calvet de Magalhães ou de Keil do Amaral, para além de vários actores e actrizes que fizeram as vozes dos seus espectáculos. Desde a sua estreia e durante a sua existência terá uma vida activa intercalada por alguns períodos de pausa. Lília da Fonseca apenas não concretizou o que mais ansiava para o seu teatro, um espaço onde pudesse ter o seu palco montado, criar, ensaiar e apresentar os seus espectáculos, lançando a semente da poesia das marionetas.

Na época em que começa os seus primeiros ensaios, em 1958, ainda existiam em Portugal os tradicionais bonecreiros que actuavam com os seus Robertos nas praças e ruelas, mas estes começavam a escassear, bem como os grandes pavilhões de marionetas ambulantes de raiz popular. O primeiro projecto com um carácter artístico de um teatro de marionetas terá sido o Teatro de Mestre Gil, do poeta Augusto de Santa Rita, irmão de Santa Rita pintor, que teve a sua estreia em 1943. Destaca-se ainda a criação de Maria Helena Alves Costa e do arquitecto Mário Bonito, no final dos anos 50, do Teatro Mais Pequeno no Mundo, sendo ainda de referir a actividade de Lena Perestrelo e do seu Teatro de Bonifrates.

A companhia de Lília da Fonseca foi a que se manteve durante mais tempo e a que terá tido uma maior visibilidade, mesmo no estrangeiro, com a sua participação em festivais internacionais. Foi também a primeira marionetista portuguesa a solicitar a sua inscrição na UNIMA, passando, à época, o Teatro de Branca-Flor a ser o representante desta organização em Portugal.

No seu teatro de marionetas irá defender uma ideia educativa e não apenas o entretenimento, onde já estão presentes os princípios da educação pela arte, tentando levar o seu teatro a todas as crianças, principalmente as mais desfavorecidas. De salientar o seu temperamento jovem e empreendedor que lhe permite principiar o seu Branca-Flor, aos 52 anos, e a viajar pela Europa para estudar e aprofundar a arte das marionetas, mantendo-se em contacto com

os principais marionetistas estrangeiros, os quais tenta acompanhar, para que também possa evoluir artisticamente.

Manteve inclusive crónicas nos principais jornais portugueses, onde revelou junto do grande público a actualidade do teatro de marionetas noutros países, entrevistando os marionetistas de renome da época, como Maria Signorelli, Margareta Niculescu e o seu Teatro Tandarica, Friedrich Arndt, José Géal, Jean-Loup Temporal, e escritores dedicados à literatura infantil, como Gianni Rodari ou Paul Faucher.

Em 2007 e após o centenário do nascimento de Lília da Fonseca, o Centro de Artes da Marioneta (C.A.Ma) e o Museu da Marioneta realizaram uma importante exposição que incluiu quase todo o espólio do Teatro de Branca-Flor. O que permitiu o estudo aprofundado do percurso desta companhia portuguesa e do sonho desta escritora… por isso, nada melhor do que recordar o seu Teatro de Branca-Flor, no âmbito desta homenagem à mulher e ao titere, feita pelo Festival Internacional de Titeres de Bilbao.

Derechos de autor: Rute Ribeiro

Esta entrada fue publicada el Miércoles, 25 de julio de 2012 a las 8:01 am y está archivada en la categoría Ponencias. Puedes seguir los comentarios de esta entrada a través de la sindicación RSS 2.0 . Puedes dejar un comentario, o un enlace desde tu propio sitio.

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